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Providência a ver navios

Matéria publicada no jornal Metro
Dia 13/05/2013

Providencia

As maravilhas prometidas para o futuro da região portuária parecem estar distantes da comunidade da Providência, no Centro. Seis meses após a decisão judicial que paralisou as obras na primeira favela do Brasil, moradores denunciam remoções de casas e a falta de projetos sociais destinados à população carente. Artistas usam suas armas para conseguir mobilizar a opinião pública internacional sobre o assunto.

A comunidade receberá R$ 163 milhões do Morar Carioca, da Secretaria Municipal de Habitação (SMH). A verba será aplicada na reurbanização da região, em saneamento e no reassentamento dos moradores. O programa prevê também a criação de um centro esportivo e uma escola. Os removidos reclamam do baixo valor pago no imóvel pela prefeitura, já que a área sofre valorização com as obras. Em um dos locais mais altos do morro, há um prédio conhecido como Oratória.

O monumento tem vista privilegiada da baía de Guanabara. O projeto de remodelação quer tornar o local mais visível.

832
casas devem ser derrubadas,
segundo a planta da organização
do programa Morar Carioca.
O Fórum Comunitário do
Porto afirma que mais de 100
residências já foram desocupadas.

O assunto foi parar no jornal norte-americano “The New York Times”. O artigo “Em nome do futuro, o Rio está destruindo o passado” foi publicado em agosto de 2012. As obras da Prefeitura foram embargadas em decisão da 2a Vara de Fazenda Pública da Capital, expedida em novembro. No entanto, as casas continuam marcadas com a tinta verde da SMH. Apenas a construção do teleférico, orçada em R$ 75 milhões, continuou.

“A Oratória era o Redentor da cidade antes do Cristo. Não justifica remover as pessoas daqui. Eles fazem parte da história da região. A comoção no exterior ajudará melhorar esse cenário”, acredita Maurício Hora, fotógrafo e morador da Providência. Ele retrata as mazelas da comunidade em seu trabalho.

Segundo a SMH, o destino das famílias é negociado até os últimos recursos. São oferecidas três alternativas: um apartamento do programa “Minha Casa, Minha Vida”, a compra de um imóvel com valor equivalente ao anterior, ou é paga uma indenização. A construção de 122 unidades habitacionais, na rua Nabuco de Freitas, na Gamboa, está adiantada e as casas serão entregues em breve.

 

“A mobilização da
imprensa de fora do
país é importante. Estão
acabando com a história.”
MAURÍCIO HORA, FOTÓGRAFO

 

“A Providência é tão
importante para o Rio
quanto o Corcovado, a
Lagoa ou o Pão de Açúcar.”
LUIZ ANTÔNIO SIMAS, HISTORIADOR

 

“Minha cabocla, a Favela
vai abaixo/ Quanta
saudade tu terás deste
torrão (…) /Que nos enche
de carinho o coração.”
SINHÔ, SAMBISTA A FAVELA VAI ABAIXO

História

Governo faz programa de memória das favelas

A Subsecretaria de Defesa e Promoção dos Direitos Humanos e Territórios do Estado selecionou 10 comunidades para o programa de resgate da memória das favelas. Neste primeiro momento, o programa acontecerá no Andaraí, Batan, Chapéu Mangueira/ Babilônia, Complexo de São Carlos, Morro da Formiga, Santa Marta, Turano, Ladeira dos Tabajaras/ Cabritos, Vidigal/Chácara do Céu e Rocinha. Cada comunidade receberá ações de acordo com as demandas locais. A Providência não foi contemplada pelo projeto.

“Com todas as contradições, a Providência é fundamental para a história do Rio”, diz Luiz Antônio Simas, mestre em História Social pela UFRJ. Não é a primeira vez que os moradores da Providência correm perigo de remoção. O sambista Sinhô compôs, na década de 1920, “A Favela
vai abaixo”, sobre o risco de implosão da comunidade.

Europeu retrata removidos em residências

A polêmica sobre as remoções atravessou o Atlântico e comoveu o artista plástico português Alexandre Farto, conhecido como Vhils. O resultado foi a criação de uma galeria à céu aberto na Providência. A obra “Descascando a Superfície” lapidou nas paredes das casas o retrato de antigos moradores que foram removidos. O trabalho, que já havia comovido o público londrino e lisboeta, foi realizado na comunidade carioca em novembro do ano passado.

A luta concreta do romance

Por Isabel Cristina da Costa Cardoso*
A visita guiada ao Morro da Providência e às áreas da Gamboa, da Saúde e do Morro da Conceição, promovida no dia 27 de setembro de 2012 pelo Colóquio Internacional Renovação Urbana, Mercantilização da Cidade e Desigualdades Socioespaciais, cumpriu sua função acadêmica e política. Durante a visita guiada, a jornalista Amélia Gonzales, da folha “razão social”, do jornal O Globo, produziu a matéria “Um passarinho à frente, por favor! A coluna de hoje no amanhã”, que possibilita publicizar o que os moradores já estão, há dois anos, denunciando: que o projeto Morar Carioca tem alto impacto de remoção, não reconhece o direito à segurança da posse dos moradores, não dialogou com a população sobre os objetivos, os tipos e as escalas de intervenção do projeto urbano, além de não considerar os moradores da favela como o verdadeiro legado social  de grandes eventos, como a Copa e as Olimpíadas, a ser preservado.
A comissão organizadora do Colóquio construiu coletivamente os roteiros de visitação com moradores do Morro da Providência, com a Associação Recreativa Afoxé Filhos de Gandhi, através de seu presidente e morador da região, Carlos Machado, e com o Instituto Pretos Novos, através das professoras Claudia Marques e Pâmela, responsáveis pelo projeto “O desdobrar das histórias”. A partir do olhar de quem mora na região e é responsável pela produção e reprodução da memória e da história social do lugar, a visita guiada pretendeu propiciar uma observação crítica sobre os impactos que grandes projetos de desenvolvimento construídos de “cima para baixo” e com recursos públicos vultuosos, como o Morar Carioca da Providência e o Projeto Porto Maravilha, desencadeiam sobre a população local e principalmente sobre as famílias trabalhadoras pobres urbanas da região.  Assim, foi possível constatar, além da concepção remocionista do Programa Morar Carioca no Morro da Providência, a ausência de planejamento e adequação dos impactos de vizinhança e ambientais causados à vida da população da Providência pelas obras urbanas.
Por último, a riqueza da história social da região portuária foi apresentada a partir da memória social de quem vive e trabalha na região, há décadas. Começamos a visita da parte baixa da região portuária, na Saúde,  a partir do recém criado espaço de exposições “Meu Porto Maravilha”. A partir desse ponto midiático que pretende transformar a cultura em um espetáculo interativo e um bem a ser consumido, a visita guiada foi desconstruindo as diversas temporalidades da história oficial do poder para revelar, “a contrapelo”, a história dos dominados que remonta ao Brasil Colônia e ao trabalho escravo; às políticas urbanas segregadoras e higienistas, desde a transição do século XIX ao século XX, como as que se expressaram no “bota abaixo” às habitações populares coletivas e aos morros da cidade; à formação do Morro da Favela, hoje Morro da Providência; aos grandes projetos urbanos de transformação da antiga cidade colonial e sua adaptação ao desenvolvimento capitalista e seu ideal de civilização; à história social do trabalho e da centralidade  dos escravos e ex-escravos e dos portuários para a história da região e da nação; e à diversidade da formação étnico-cultural e social da classe trabalhadora e de suas expressões culturais como, por exemplo, o samba e o carnaval, a partir da coexistência de diferentes núcleos de afrodescendendes, de migrantes e de imigrantes estabelecidos na região portuária e nos bairros do seu entorno.
O conjunto destes aspectos observados e narrados contribuiu para a compreensão de que  projetos e intervenções públicas e privadas que pretendem “revitalizar” a região, como se não houvesse vida e memória social a animar o território, e prescindem da participação efetiva da população, são geradores de antigas e novas desigualdades socioespaciais e conflitos urbanos significativos. Da mesma forma, a proposta de organização de uma visita guiada como parte da programação do Colóquio Internacional e a forma como a mesma foi planejada, reiteram o papel da universidade, e em particular da profissão do Serviço Social, com o fortalecimento da cidadania e a formação de um processo social e político emancipatório.
*Membro da comissão organizadora do Colóquio Internacional Renovação Urbana, Mercantilização da Cidade e Desigualdades Socioespaciais
Professora da Faculdade de Serviço Social e Coordenadora do Projeto de Extensão “Direito à Cidade, Política Urbana e Serviço Social”
Integrante do Fórum Comunitário do Porto
Fotos no Flickr:
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Um passinho à frente, por favor! A coluna de hoje no Amanhã
AMELIA GONZALEZ04.09.2012 09h00m

Eram 9h e a estação Central do Brasil já estava sem a multidão que cedo lota as gares e o saguão. Assim, foi fácil encontrar o pequeno grupo no local onde havíamos combinado. Acadêmicos e pesquisadores, 21 pessoas no total, esperam os dois moradores do Providência para começarmos um tour pelo Morro. A iniciativa é do Núcleo Favela e Cidadania da UFRJ, que este ano trouxe como tema do Colóquio Internacional de Favelas a questão das remoções urbanas. A construção da nova zona portuária, projeto do Morar Carioca, tem previsão de remover cerca de 800 casas do Providência.

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O FCP participará da Pré-estreia do Festival de Cinema Globale Rio!

O Globale é um festival que propõe, através da exibição de filmes de ficção e documentário, construir momentos de debate com um público amplo sobre temas relacionados aos processos de globalização. Nesta edição do Globale um dos filmes exibido será o documentário “Distopia 21”, produzido pelos Rio40Caos e Antena Mutante que trata da expulsão das populações pobres de suas áreas de viver e do apagamento sistemático da memória coletiva por conta da especulação mercantil. O documentário tem como pano de fundo a cidade do Rio de Janeiro, em especial a zona portuária e já foi exibido aqui no Blog! Outros filmes com este tema também serão exibidos! 
A Pré-estreia já é amanhã, segunda-feira, dia 20 de agosto de 2012!
 
LOCAL: Cine Joia – Av. Nsa. Sra. de Copacabana, 680, Subsolo / loja H, Copacabana, Rio de Janeiro, RJ
HORÁRIO: 19hs

Providência: 115 Anos de Luta (Vídeo)*

O filme “Providência: 115 Anos de Luta” foi produzido pelo cineasta Haimy Assefa em homenagem ao aniversário de 115 anos do Morro da Providência que será completado em outubro de 2012. A Providência foi a primeira favela do Brasil. Este filme é uma das várias intervenções recentes no morro que tem como objetivo chamar a atenção para a importância histórica da Providência, dado o status do Rio de Janeiro, recém-recebido, de Patrimônio da Humanidade. O filme chama a atenção para as ameaças de despejo atuais enfrentados pela comunidade. O curta-metragem apresenta fotógrafo local Mauricio Hora e morador desde nascer Diego de Deus.

*Fonte: http://rioonwatch.org.br/?p=3436


Flickr FCP

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